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02/02/2017

Entrevista da Viva Lácteos a Balde Branco

1 – Como foi criada a Viva Lácteos?

Marcelo Costa Martins

– A idéia de se criar a Viva Lácteos surgiu ha mais de 2 anos a partir de conversas informais entre líderes e empresários que sentiam a necessidade de se ter uma unicidade de representatividade do setor lácteo brasileiro. Sabia-se que não poderiam errar e que para ter sucesso era preciso trabalhar profissionalmente desde o início. Para tal acordou-se em contratar uma consultoria de peso para fazer um benckmarking de Associações bem sucedidas de outros setores. Assim, algumas empresas se quotizaram para financiar este estudo inicial. Após quase dois anos de discussões a Viva Lácteos nasce finalmente com missão e objetivos bem claros.

2 – Com várias entidades no setor, como será a atuação da Viva Lácteos? 

A associação foi criada para promover um maior conhecimento sobre o setor, desenvolver ações que auxiliem no ganho de competitividade e de produtividade. Claro que também caberá a nós zelar pela imagem dos produtos lácteos, mas sempre com o objetivo principal de mostrar a importância do setor para a economia e para a sociedade. O setor de lácteos emprega milhões de pessoas, gera riqueza para pequenos produtores rurais, colaboradora com a melhora das contas externas graças à exportação de produtos lácteos, como leite em pó, leite condensado e queijos, e tem um peso significativo no PIB nacional.

A Viva Lácteos nasceu com apoio irrestrito de todos os segmentos do Setor. Entre os associados atuais há 26 empresas líderes na produção de lácteos, além de outras empresas que já manifestaram interesse em se associar. Também fazem parte da Viva Lácteos outras três importantes associações: a ABIQ (Associação Brasileira da Indústria de Queijo), o G100 (Associação Brasileira de Pequenas e Médias Cooperativas e Empresas de Laticínios) e a ABLV (Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida).

Juntos, os associados da Viva Lácteos são responsáveis por 70% do processamento de leite e derivados do país, incluindo leites, bebidas lácteas, iogurtes, queijos, requeijões, entre outros. Ao todo, esse mercado movimenta em torno de R$ 100 bilhões ao ano e emprega quase 4 milhões de pessoas.

3 – O que o Sr. espera de suas ações?

A Viva Lácteos trabalha para desenvolver ainda mais um setor que já colabora muito com o desenvolvimento social e econômico brasileiro e tem condições de fazer muito mais. Nosso objetivo é aumentar a competitividade do produto brasileiro nos mercados interno e externo, atuando de forma integrada com o setor primário para elevar a produtividade e a qualidade dos nossos produtos. Temos total consciência que nunca teremos uma indústria competitiva no âmbito global se não tivermos uma base produtiva competitiva.

A Viva Lácteos foi criada para valorizar a indústria de lácteos. Nossa intenção é garantir a representatividade do setor e cuidar da sua imagem, incentivando o desenvolvimento e a sustentabilidade do mercado de leite. Queremos tornar a cadeia brasileira de lácteos mundialmente competitiva e assim ser um forte colaborador para o saldo da balança comercial brasileira.

Para isso, estamos convictos de que é preciso zelar por um ambiente tributário livre de distorções, em que haja isonomia competitiva entre as indústrias internamente e no âmbito internacional. Além disso, acreditamos que os produtos lácteos precisam se tornar mais acessíveis ao consumidor brasileiro.

A Viva Lácteos vai também trabalhar para trazer desenvolvimento para toda a cadeia, por meio de políticas que ampliem a disponibilização de linhas de crédito e assim estimular investimentos e a melhora constante da qualidade dentro de um ambiente concorrencial respeitoso e com um arcabouço regulatório moderno e em linha com as melhores práticas.

4 – Como funcionará em termos de gestão? E como será mantida a Viva Lácteos?

A Viva Lácteos possui um Conselho Administrativo composto por representantes de 12 empresas e 3 associações, um Conselho Fiscal e uma Diretoria Executiva formada pelo Presidente e o Diretor Executivo que são profissionais contratados no mercado.

Dado o primeiro passo, que foi a criação formal da associação e a montagem da sua estrutura básica de funcionamento, já com um Diretor Executivo, o próximo passo será contratar o Presidente Executivo. A intenção é contar com um profissional experiente, de mercado, que se comprometa com a missão institucional e capaz de gerir a associação com foco no cumprimento dos sues objetivos.

A Viva Lácteos é mantida por meio da contribuição dos associados que é proporcional ao faturamento de cada empresa e atrelada ao peso do voto. Esse sistema de contribuição permite a associação ter maior disponibilidade de recursos e contar com maior número de associados.

5 – Elevar o consumo de lácteos no país é prioridade para a Viva Lácteos e também o principal desafio do setor. O Sr. poderia adiantar como ele será enfrentado?

A Viva Lácteos surge em um dos momentos mais importantes para o setor de leite no Brasil. Segundo a Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO), o país é o quarto maior produtor mundial de leite, com 33 bilhões de litros por ano. Na última década, houve um incremento do consumo de 32%, saltando de 130 litros per capita/ano para 173 litros. Ou seja, em 2013 cada brasileiro consumiu quase 50 litros de leite (na forma fluida e derivados) a mais, que em 2003. No entanto, há o desafio de chegar ao volume recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

A qualidade do leite é fundamental para o incremento do consumo. Porém, as exigências não se limitam à questão da qualidade, mas estende-se à necessidade de desenvolver novos produtos com base láctea que atendam a demanda dos diversos perfis de consumidores. Há, também, outras questões relevantes como a modernização dos marcos regulatórios junto aos órgãos responsáveis como a ANVISA, Ministério da Agricultura e Ministério da Saúde, a necessidade de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e o constante trabalho de comunicação visando esclarecer à população sobre a importância da ingestão de lácteos para a saúde, especialmente entre as crianças e os idosos.

6 – No lançamento da Viva Lácteos, em Brasília-DF, foi anunciado que a entidade pretende trabalhar de forma integrada com os produtores de leite. Como se dará esta relação?

O grande número de produtores mostra como o leite é importante para o país. Milhões de pessoas dependem do produto para sustentar suas famílias. A baixa produtividade é um problema do Brasil e afeta muitos setores da economia, incluindo os lácteos.

Acreditamos que a solução para aumentar a competitividade e resolver o problema no médio/longo prazo é promover políticas de incentivo à adoção de novas tecnologias, trabalhar gargalos logísticos, e atualizar a legislação do setor. E preciso também priorizar a profissionalização da produção. Várias associadas da Viva Lácteos possuem programa de Assistência Técnica e vem desenvolvendo ações de qualificação profissional voltados a melhoria contínua da qualidade do leite e fomento para o aumento da competitividade no setor primário.

Estimular e modernizar a produção de leite, ampliar linhas de crédito, com taxas de juros factíveis e que permitam manter a sustentabilidade dos produtores de leite estão na nossa pauta de prioridades, pois são fundamentais para que o produto brasileiro ganhe ainda mais qualidade, produtividade e competitividade.

7 – Neste mês de julho, uma nova etapa da Instrução Normativa 62 entrou em vigor, com exigências mais rigorosas de qualidade para produção e processamento de leite. Qual é a sua expectativa a respeito do que deve ocorrer, já que alguns laboratórios não apontam índices de qualidade muito expressivos?   

É importante esclarecer um ponto. O leite brasileiro de modo geral é bom e tem qualidade, com espaço para melhorias claro e vamos atrás delas. O que discutimos é a adequação do produto aos padrões exigidos por países europeus e pelos Estados Unidos.

A indústria e os órgãos fiscalizadores estão cada vez mais rigorosos em seu processo de análise do leite, diversos testes são feitos no produto. As indústrias do setor investem pesadamente em tecnologia e em modernização dos seus controles de qualidade.

No campo, há a necessidade de ampliar os esforços no sentido de desenvolver ações de qualificação profissional voltados a melhoria contínua da qualidade do leite. Estimular e modernizar também a esse segmento da cadeia está na nossa pauta de prioridades, pois ele é fundamental para que o produto brasileiro ganhe ainda mais qualidade, produtividade e competitividade.

8 – Como o governo recebeu a criação da Viva Lácteos?

O governo recebeu muito bem a criação da Viva Lácteos. Os órgãos governamentais enxergavam o setor fragmentado, com diversos interlocutores e discursos não alinhados. Algumas vezes, medidas governamentais eram anunciadas sem uma negociação prévia com o setor. Isso é muito ruim para todos, inclusive para o governo. A criação da Viva Lácteos é muito importante para centralizar o debate com os órgãos governamentais, o que facilitará bastante o diálogo e o entendimento dos reais problemas do setor. Já estou sentindo isto no meu dia a dia.

A Viva Lácteos nasceu justamente para promover esse alinhamento, não apenas do discurso, mas também para definir uma pauta de prioridades a ser discutida, com objetivos claros e de maneira bastante profissional e transparente.

9 – Há uma grande discussão em torno do leite. Ele faz bem ou mal à saúde. Há uma corrente de especialistas que dizem que os produtos lácteos devem ser evitados em virtude da intolerância a lactose e em decorrência do processo de industrialização (sódio nos queijos, perda de vitaminas em virtude do aquecido do Leite UHT a temperaturas muito elevadas, com consequente redução na absorção de cálcio, entre outros). A associação discorda desses argumentos?

Sistematicamente o setor é bombardeado por posicionamentos e artigos de profissionais que em seus argumentos carregam um viés muito mais ideológico que científico. A Viva Lácteos criou recentemente um Comitê Técnico que está desenvolvendo, entre outras ações, o “Plano de Desmitificação da Intolerância a Lactose”.

A ideia é esclarecer a população sobre a importância do leite como alimento. A corrente de médicos favoráveis ao consumo de leite e de produtos lácteos sustenta cientificamente que a ingestão destes alimentos é muito importante para a saúde, especialmente entre as crianças e adultos na terceira idade. Todos destacam que o produto contém proteína de alta qualidade que ajuda na construção dos tecidos, auxiliando na preservação dos músculos, cabelos, unhas e demais partes do corpo. Possui vitaminas como A, B e D, que protegem os olhos, fornecem energia e melhoram a concentração, além de combater a anemia e fortalecer os ossos por ser rico em cálcio. Seus minerais favorecem o processo de cicatrização e melhoram o sistema imunológico. Outros benefícios também são verificados, como prevenir doenças neurológicas. É preciso levar essas informações aos consumidores, aos formadores de opinião, aos agentes de saúde, enfim a todos que podem influenciar direta ou indiretamente no aumento do consumo dos lácteos.

10 – Há uma certa movimentação para retomar as exportações de lácteos. O Sr. considera que o país pode assumir tal compromisso ou deve mesmo se voltar ao consumo interno, já que há espaço para crescimento e as importações continuando mexendo com a nossa balança comercial?

Desde 2008, o país deixou de ser exportador de lácteos e passou novamente à condição de importador. O aumento do consumo no Brasil e a política cambial foram dois fatores que contribuíram para que as empresas priorizassem o mercado interno. No entanto, a Viva Lácteos vem atuando na busca de novos mercados para os produtos brasileiros, por meio da organização de missões de habilitação para exportação, a exemplo da Rússia, Cuba, Chile e Bolívia. Estamos trabalhando na identificação de requisitos sanitários que são entraves à exportação aos principais mercados consumidores e estamos nos organizando para desenvolver ações de promoção às exportações nas principais feiras e eventos internacionais. Atualmente, as exportações estão concentradas na América Latina, África e Oriente Médio, destino de 80% das vendas externas de leite e derivados.